segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Uma carta para a minha avó

Todos os anos por esta data soma-se mais um. Mais um ano de ausência. Mais um ano de recordações.
Devo dizer que não são muitas. Não éramos as mais próximas. Não tivemos tempo para o ser. Mas tenho quase a certeza que, se nos tivessem dado mais algum tempo, hoje o seríamos. 
Sabes avó, hoje sou uma pessoa completamente diferente. Já não sou aquela menina extremamente tímida, que praticamente não fala com ninguém e que não gosta de comer. Hoje sou uma mulher que gosta de conversar e até sou um bom garfo. Se der para conciliar as duas modalidades, melhor. 
Sabes avó, agora vamos mais vezes à terra. O pai conseguiu concretizar o sonho de fazer aí uma casa. Ias ficar orgulhosa se a visses. Ele também ainda chora a tua partida. Acho que é um vazio que nunca se volta a preencher. 
Sabes avó, este ano acabei a minha licenciatura e, se tudo correr bem, daqui a menos de dois cabo o curso. Tens uma neta doutora. E eu tenho muita pena que nunca possas vir a ver isso. 
Sabes avó, tenho saudades daquilo que podíamos ter sido. Das longas conversas e discussões que íamos ter. Porque eu não vou à missa e até me atrevo a dizer que não sou católica. Já imaginaste? E até me tem passado pela cabeça fazer uma tatuagem. Onde é que isto já se viu?
Nunca vais saber avó, mas és uma grande inspiração para mim. Ficaste viúva muito cedo, com cinco filhos a cargo e conseguiste virar-te sozinha. Tudo fruto do teu trabalho árduo que se fez sentir nas tuas mãos ásperas e gretadas, na tua pele morena e enrugada pelo sol. A vida do campo não foi fácil para ti, mas tu chegaste sempre bem para ela. És uma mulher de força. 
Nunca amparaste as minhas lágrimas no teu ombro, não conheceste o meu primeiro namorado, nunca me viste trajada, não me vais ver a sair de casa ou a comprar o meu primeiro carro, nunca irás ao meu casamento, nem nunca verás as minhas vitórias pessoais. Mas queres saber uma coisa avó? Vais ser sempre uma das mulheres da minha vida.



Com muito amor da tua neta,
Vanessa S.

sábado, 8 de outubro de 2016

A culpa é do tempo!

Do tempo que me falta durante o dia para fazer tudo o que quero (ou o que, mesmo não querendo, tenho de fazer). Raios partam quem inventou o dia só com 24 horas! De certeza que esse alguém não estava a fazer um Mestrado aquando da decisão!! 

Do tempo que sofre de perturbação bipolar: a manhã começa fresca, já sabe bem um casaquinho, à tarde está um forno e parece que só se anda bem em biquíni e, ao final do dia, voltamos a vestir o casaco. Este Outono que parece ser bastante económico, visto que só precisamos de duas peças de roupa para o aguentar. 
Esqueçam. Isto já não vai lá só com falinhas mansas. S. Pedro prometo que te arranjo um bom quarto na psiquiatria, ok? 

Como se tudo isto não fosse suficiente, junta-se a falta de palavras. A sensação de que não tenho nada a dizer. Daí não escrever já há algum tempo.
Se voltei a ser mordida pelo bichinho da escrita? 
Bem, acho que só o tempo o dirá.



Lembrem-se:
Mantenham os olhos nas estrelas e os saltos no chão,
Vanessa S.